E lá naquele lugar caótico havia uma menina com olhos marcantes, olhos diferentes de tudo que eu já havia visto na vida. E foram eles que me salvaram de cair do precipício, e a pessoa dona destes olhos expressivos hoje tenho orgulho em chamar de filha.
Mas voltando ao inicio vou te contar sobre aqueles olhos. O que mais chamava a atenção neles não era cor de jabuticaba madura, e sim o que eles refletiam, dizem que os olhos são o espelho da alma, e definitivamente aquela alma era cristalina, era possível enxergar e sentir a desesperança dos sonhos apagados em apenas um olhar, e havia mais ali algo parecido com aceitação, não era fácil decifrar o significado.
Nunca fui boa com pessoas e toda aquela papagaiada de sentimentos, sim sou uma mulher, e não eu não sou um robô só creio que psicologia não é para mim! Mexer com dados é muito mais interessante que procurar entender as pessoas com todos aqueles sentimentos conturbados, que sempre dão um jeito de mudar tudo, e fazer com que nada funcione. Já os dados se você realizar a metodologia corretamente os resultados serão sempre previsíveis. Tudo bem eu assumo eu estava próxima, bem próxima mesmo de me tornar um robô, mas quando encontrei a encontrei algo subitamente se revolveu em meu sistema nervoso e me fez repensar sobre o comportamento humano e algo relacionado aquilo que chamam de relacionamento social obrigatório, vulgo “família”. Agora chega de floreios e explanações inúteis e irei direto ao assunto!
Sabe onde eu estava? Lógico que não sabe isso foi uma pergunta retórica, eu estava no meio da favela onde tudo é mais ampliado, principalmente nos quesitos humanos e suas necessidades biológicas e sociais a flor da pele. Estava em mais uma intrigante pesquisa de campo querendo provar algo que certamente não irei te contar, pois não vem ao caso. Foi quando a pesquisa estava tomando rumos aparentemente concretos, fui chamada a ir ao ponto mais alto da favela para sanar uma possível duvida de um companheiro de equipe.
Estava focada em descobrir quais as possíveis duvidas que ele pudesse ter já que eu havia deixado elencado todas as possíveis duvidas que poderiam surgir, e no pré-teste havíamos exterminado todas as possibilidades de erros. Quando cheguei à central improvisada de nossa equipe vi João apoiando as mãos nos ombros de uma menina que aparentava estar entre os 4 a 6 anos de idade dado a sua estatura. Fiquei sem entender nossa pesquisa não estava envolvendo crianças e sim pessoas adultas. E algo me chamou à atenção quando prestei a atenção no pequeno projeto de ser humano, e foram os olhos que te falei acima. Conversei com João que estava totalmente apavorado falando que a menina chegou até ele e que a mãe havia morrido ela não tinha pai nem para onde ir. Eu dei a solução previsível e correta a ser feita que seria levá-la ao conselho tutelar mais próximo e rápido possível, tínhamos uma pesquisa que precisava ser finalizada.
E o que se resolveu foi levá-la até o conselho tutelar, só que antes de leva-la à aquele lugar na qual costumo chamar de depósito de menores, aquela pequena começou a me intrigar ela era incrivelmente esperta para a idade dela, e possuía uma inteligência que sob a proteção da pessoa correta poderia se desenvolver e se equiparar a minha própria. Fora que algo estranho aconteceu algo que não estava acostumada, eu estava debruçada sobre uma planilha preocupada quando a pequena me abraçou e falou que não precisava ficar chateada que tudo iria dar certo. Meu peito se transbordou de algo que costumam chamar de alegria, satisfação, coisa que eu só sentia quando minha pesquisa era satisfatória. E havia mais naquele abraço algo que hoje eu vejo e chamo de amor.
Naquela tarde eu a levei para o conselho tutelar, mas quando a deixei, senti que não poderia abandona-la, aquela criança merecia saber o que era ser feliz, e eu estava disposta a mudar todas as minhas manias e rotinas absurdas para fazer com que ela fosse. Não seria fácil afinal mas eu estava prestes a entrar nos anos mais felizes e intrigantes de minha vida, e eu deveria tudo e sempre irei dever a ela minha filha! E foi assim que tudo começou...
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