Desventuras em Série (Parte2)

18h25

 Como meu sonho me previra cheguei atrasada ao shopping, e tive a brilhante idéia de olhar meu celular que até então silencioso mesmo eu estando atrasada, e como bem conheço o Ju, há essas horas eu estará ficando mais louca do que já estava com tantas ligações.

- DROGA, esqueci essa merda de celular no silencioso, e olha só apenas 15 chamadas ao atendidas do Ju.  – estava enraivecida sozinha correndo contra o tempo, o shopping estava lotado e a sessão do 2012 já tinha começado a 5 minutos, liguei para o Ju levar meu ingresso até a bilheteria para eu assistir o filme, afinal meu ingresso estaria com ele.

-Alo? Taci cadê você o filme vai começar!

-Estou aqui na frente do cinema...

-Então entra horas.

-Ju,  eu estou sem o ingresso você disse que...

-Você não olhou suas mensagens do celular ainda né?

-Não por quê?

-Se tivesse lido teria visto que eu não consegui comprar seu ingresso.

-DROGA! – Eu fiquei revoltada, mas apesar de o “droga” ter saído tão sonoro que chegou a fazer o casal que se beijava animadamente em minha frente pararem assustados com o que faziam, eu retornei a falar educada. –Vou ver se consigo comprar então depois a gente se vê!

Ao estivar meus olhos para a bilheteria até desanimei. A fila estava tão grande que dava voltas feito um casco de caracol. Então fui para a fila e assumi uma postura de conformada afinal depois de tantas desventuras eu me recusava há terminar meu dia sem pelo menos ver o tal filme que aguardei durante meses.  Os minutos na fila se arrastavam como os dias nublados. Foi então que tive a brilhante idéia...

-Me recuso a ir ao cinema sozinha, poxa é sábado deve ter alguém livre.  Foi então que comecei a ligar para todos os números da minha agenda telefônica no celular.  A primeira pessoa que pensei foi...

-Alô, Mari?

-Oii teia tudo certinho? Como que ta a mãe e o Pai?  

-Tá sim Mari. Eles estão em casa, Má que se ta fazendo agora?

-Estou fazendo nada vem para cá!

-Ah não dá... – Fiquei esperançosa achando que minha irmã seria minha companhia. –Topa um cinema? To aqui na fila e compro o seu ingresso agora!

-Ih Taci, me desculpe, mas o Diego daqui a pouco chega... Fica para uma próxima...

-Ah tudo bem...

-Liga para a Tati e para o Marquinho, eles adoram o cinema...

-Tá vou ligar beijos...

-Beijinhos e até mais...

Minha garganta se apertou com um pressentimento de que pela primeira vez eu iria ao cinema sozinha...

 -Tuu...tuuu...tuuu Vivo informa este telefone está desligado ou fora da área de cobertura.

-Ah Legal, havia me esquecido que a Tati falou ontem que iria hoje para Santo Antônio do Pinhal. Bom vou tentar ligar para o Isma...Ele ia ficar o dia inteiro em casa hoje mesmo.

Duas chamadas perdidas depois...

-Alô?

-Ahh Oi Téia!

-Paty? Cadê meu irmão?

-Ah ele está dirigindo, estamos descendo a Serra de Ubatuba!

-Como assim descendo a Serra de Ubatuba? Se nós combinamos que quando vocês fossem iriam me levar junto, para eu rever o pessoal de Ubatuba!

-Ah teia você dormiu na casa da Sam, então nem ligamos para você.

Uma voz no fundo gritava...

-É a Tacii? Se for fala que to mandando um beijo e porque ela não veio com a gente?

-É a Pri no fundo?

-É sim minha família está indo junto...  

Soltei um suspiro pesado... que foi percebido do outro lado da linha..

-Aconteceu alguma coisa Tacii??

Pensei comigo “ Claro que aconteceu, o maldito de um vestido deu errado, até achar um mais ou menos. Meus amigos estão todos dentro de uma sala de cinema e eu estou para fora porque eles tiveram a capacidade de  combinar uma coisa comigo e não cumprir meus irmãos estão todos ocupados, sendo que um me traiu falando que iria para praia e iria me levar, mas ao invés disso está sua família inteira e eu estou em uma fila de cinema sozinha cheia de casaizinhos, e não vou desistir de assistir essa merda porque estou esperando a muito tempo por ele!”  Mas ao invés de falar tudo isso apenas balbuciei...

- Nada não Paty obrigada... - E desliguei o telefone antes que começasse a chorar.   

Foram mais 30 minutos na fila olhando para o nada,  tentando disfarçar que havia vários grupos de amigos empolgados com o filme os casaizinhos agindo como todo bom casal na fila de cinema. Não é preciso falar mais nada não é?

Meu mau humor estava tão grande que realmente assustei uma criancinha que estava passeando pelo shopping quando viu minha expressão de mal humor,ela correu até o colo da mãe ela e  chorou. A mulher olhou para mim mal humorada e eu respondi com o olhar na altura, tanto que ela abaixou o olhar e ficou a consolar a filha.    

Pela primeira vez na minha vida me senti só. E com mais 30 minutos para gastar antes de ir para a fila do filme.  Foi então que meu estomago me lembrou que eu não havia comido direito o dia inteiro. Protestou e fez um barulho danado que na muvuca que é o nosso queridíssimo shopping de Taubaté aos sábados. Deve ter sido notado por umas 3 pessoas que passavam esbarrando em mim,  protegida sobre a cara de mal humor as pessoas nem ousavam rir do meu estomago barulhento.

Não sou uma pessoa dada às bebidas, na verdade não gosto mesmo mas cheguei a conclusão que todo aquele bolo de coisas que haviam formado em minha garganta não iriam embora com uma simples coca-cola. Munida com meu RG em mãos pronta para mostrar a quem ousasse recusar  vender um chop de vinho para minha pessoa. Fui comprar o tal chop, realmente hoje penso que minha cara não devia estar das melhores, a mulher que vendia as bebidas que havia acabado de pedir o RG para um Sr. quase grisalho e me vendeu o tal chop sem problemas algum. Com o shop em mãos e uma esfirra aberta, sentei-me na primeira mesa livre que encontrei. E passei a analisar as pessoas e com meu humor sarcástico aguçado, me recuso a colocar os  pensamentos que tive a respeito de cada grupo de pessoas que eu vi no shopping tal dia,aqui neste texto.

Assisti o tal filme 2012 enquanto as pessoas ao meu lado choravam com as cenas dramáticas eu ria achando patéticas as manobras feitas pelo personagem principal para fugir da fúria da natureza.  Confesso ter torcido para que tudo acabasse de uma vez. Conforme o filme passava meu estresse diminuía, eu estava realmente dando boas risadas sozinhas naquele filme sob o olhar de censura de um grupo de pessoas de meia idade sentados ao meu lado, que assistiam ao filme, horrorizados com tanta destruição.  

Como havia sido um dia de desventuras a “chave de ouro” para completar o dia aquela cerejinha por cima do sorvete, foi a hora de ir embora para casa, afinal eu estava para ir de ônibus, estava chovendo, liguei para casa para avisar minha mãe que estava voltando quando ela me disse.

- Não filha espera que seu pai vai te buscar Ai...fica no ponto de ônibus...

Fiquei com um principio de felicidade, pois ao invés de ficar dois dias esperando meu ônibus para voltar para casa e voltaria de carro, e o dia teria s concertado... Ao ver a cara do meu pai dentro do carro percebi que eu teria preferido voltar para casa de ônibus, nem que para isso tivesse que esperar duas horas.

Meu pai esbravejava com o horário que o filme havia acabado, pelo fato de eu ter ido no cinema e não ter avisado ele, o detalhe é que não havia uma pessoa na minha família incluindo minha mãe que noção soubesse que eu iria ao cinema.  Mas relevei a falação toda que durou todo o percurso de volta para casa estava tão esgotada que chegando a minha casa tomei um banho, e fui deitar, em todo o percurso eu permaneci sem abrir minha boca nem para retrucar o meu pai, nem sequer para dar oi para ninguém, estava cansada demais para qualquer coisa. E fui dormir na esperança de ao por minha cabeça no travesseiro eu acordasse e tudo não haveria de ter passado de um sonho ruim.