terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A história de um recomeço,

E depois de muitos anos o sorriso no rosto daquela velha senhora voltou a alcançar os olhos. Aquele brilho no olhar que a vida dura aos poucos foi minando voltou com vivacidade de outrora. E aqueles velhos olhos até então desconhecidos se reconheceram da mesma forma que os romances retratam, só que dessa vez era diferente apesar de a expressão contida naqueles semblantes ser exatamente a mesma, e receber o mesmo nome amor que é aquele sentimento que brota no ser humano independente da idade, credo, tipo físico. E com aqueles pares de olhos cansados não foi diferente o amor foi à primeira vista.
Aquela senhora não era mais a menina que sonhava com príncipes encantados, mas era aquela que acreditava piamente na vida e no que sempre lhe fora reservado.   E desde sempre foi assim, mesmo quando pequena já sentia que havia alguém lhe esperando no meio de sua estrada, só que esse alguém demorou de mais... Então a menina que brincava de bonecas cresceu, virou adolescente encontrou um amigo no qual se apaixonou, posteriormente se casou teve filhos e os filhos tiveram outros filhos.
O tempo foi passando os anos foram se encurtando e seu companheiro de caminhada partiu para o outro lado da vida. Agora o peso da idade lhe caia sob os ombros estava cansada, se sentia uma intrusa no meio de tudo e de todos, então por si só resolveu partir para um asilo. A família foi completamente contra, mas para ela isso não importava, ela achava que seu ciclo havia terminado então simplesmente partiu. Não havia decidido partir para o asilo de uma hora para outra, mas sentia a necessidade de ir, o tempo dela agora era outro e mesmo amando a família dela e indo visitá-los quando poderia se sentia mais segura assim, cada um no seu devido tempo.
E foi quando chegando à nova morada que ela o encontrou, ele estava no pátio sentado ao redor de uma mesa com outro senhor a frente que possuía uma face alegre de quem estava ganhando o jogo, só que ao contrario do senhor da boina que olhava encantado para o jogo de damas, ele simplesmente estava alheio ao jogo, olhando perdido em pensamentos para a fonte do pátio, era como se estivesse a recordar de algo, e definitivamente ele estava.
Ele estava a lembrar de sua vida, filho único, nasceu e cresceu no interior de São Paulo, participou ativamente no cenário político de sua região, mas nunca se apegou a nada nem a ninguém. Nenhum lugar prendeu sua pessoa, e não encontrou alguém na qual pudesse formar uma família, se tornou um boêmio, depois se viu trabalhando muito para em prol de ter uma vida melhor, e se dedicou ao trabalho como era difícil de ver alguém se dedicar. E os anos foram passando, o ritmo acelerado de sua vida foi diminuindo, diminuindo até que um parente distante vindo de não se sabe aonde o internou naquele asilo, como se fosse um deposito de senhores.
 Aquele senhor já não tinha mais nenhuma perspectiva, havia criado uns amigos lá no asilo, mas ainda algo lhe faltava. Com essa impressão foi que ele chacoalhou a cabeça e olhou para a nova moradora que chegava ao pátio para ser apresentada a todos. E foi quando ele a viu e seus olhos se reencontraram... Reencontram sim, mesmo nunca tendo se visto, os olhos pareciam que se conhecia de outros tempos. E o reconhecimento foi imediato como o sorriso nos lábios de ambos. Eles finalmente haviam se encontrado, quando não havia mais perspectivas de recomeço.
E se você esperou a vida inteira por alguém que só apareceu quando a caminhada já está perto do final? E se esse alguém também já estivesse cansado de tudo e passou a esperar calmamente o desfecho? E se simplesmente a vida resolveu recompensar mesmo que tardiamente aquelas duas almas afins? Tantas perguntas sólidas que se dispersaram no ar ao encontro daquele olhar. E foi assim que eles se reconheceram em um gesto mudo carregado de significados, o tempo se dissipou, pois até mesmo o tempo senhor dos ciclos é pequeno em comparação ao amor daquelas almas antigas que se reencontraram perto do recomeço. De hoje em diante aquelas almas estariam juntas, ambas caminhando por toda a eternidade.

1 comentários:

Unknown disse...

Que texto mais fofo, falando do amor puro e verdadeiro, em toda a acepção da palavra. Adorei!

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